- João Paulo Rodrigues
Vívida
Nada move meu coração o suficiente
Essas coisas que ousam mover a gente
Para que eu me entregue e me desgaste
Engate uma quinta marcha e então marche
Eu não me apego, não sofro, nem me iludo
Por consequência eu também não vivo
Mas me dou um desconto por tudo vivido
Toda cicatriz é um resumo do que foi sentido
Nessas últimas décadas bem apaixonadas
Minha caligrafia mostra o quanto estou calejada
Eu já passei da fase em que acham que devo
Lançar pra eternidade todo o meu desejo
Eu não me iludo com todo esse falatório
Nem me contento com o bem estar ilusório
A poesia que me habita é sobre minha rotina
Tipo os clichês que estão escritos na esquina
Eu já fui dessas que abria a porta para o amor
Foram tantas batidas que um dia a mão cansou
Foi algo natural depois de tanto batimento
A alegria da chegada acabou em um momento
Eu não me sinto mais embriagada nesse vinho
Eu não me desfaço mais por esse longo caminho
E não é medo de me sentir entregue de novo
Eu só não agonizo dessa forma nesse corpo
Já não me sinto mais provida desse poço calor
Que nos afoga, nos sacia, que nos dá amor
Mas isso não quer dizer que eu não mude
Que estou fechada permanente nessa atitude
Que jogam rosas ao chão na doce caminhada
De se sentir segura apenas com uma mão dada
Pois o meu lado poético ainda é vivo e respira
Mas adormece enquanto o ponteiro gira.